domingo, 26 de setembro de 2010

5 coisas que não fazem sentido

O que é a mente?
A tentativa de entender o mundo esbarra, logo de saída, num obstáculo formidável: não sabemos como existe nem como funciona nossa principal ferramenta para lidar com o Universo – a mente. Graças a ela, dispomos de consciência, noção de individualidade e capacidades variadas, como aprender, avaliar, adorar, detestar e opinar. Até sabemos detectar os "sintomas" biológicos de um estado de espírito, como o amor e o prazer. Podemos também fazer o caminho inverso, ao fornecer estímulos químicos e detectar resultados comportamentais. Mas a ponte entre um lado e outro permanece um mistério. A mente é mais do que a atividade elétrica e química do cérebro. "Na cardiologia, por exemplo, pode-se partir de uma única célula, agregar as outras peças e chegar ao sistema completo", diz o psiquiatra Luiz Alberto Hetem, da Faculdade de Medicina da USP. "No cérebro, a coisa se perde em algum momento. Não há um contínuo que vá da célula até o sistema em funcionamento."



Por que temos tão pouco genes?
Na década passada, biólogos estimavam que o ser humano tinha 100 mil genes. Na época da publicação da versão final do genoma humano, há 2 anos, o número já havia caído para 32 mil. Finalmente, em outubro passado, após 15 anos de trabalho, o Consórcio Internacional de Seqüenciamento do Genoma Humano apresentou seu último cálculo, indicando que temos 25 mil genes, no máximo. Número nada impressionante, se levarmos em conta que a Arabidopsis thaliana, planta da família da mostarda, tem 26 mil. "Nós não parecemos muito impressionantes nessa competição", diz Francis Collins, diretor do Instituto Nacional de Pesquisa do Genoma Humano, dos EUA. Uma primeira conclusão, óbvia, é que não é o tamanho do genoma que importa – e sim, o resultado final que ele proporciona. Uma segunda conclusão, inevitável, é que sabemos pouquíssimo sobre como os genes funcionam.



Por que sonhamos?
Sigmund Freud deu ao mundo, em 1900, a idéia de que nossos sonhos teriam significados ocultos. Eles seriam uma tentativa do nosso inconsciente de realizar desejos, muitos dos quais não admitimos conscientemente. O conceito permanece difundido até hoje, mas neurologistas ainda procuram uma justificativa para os sonhos. Se eles são indispensáveis, por que orcas e golfinhos, mamíferos com cérebro desenvolvido, passam seu primeiro mês de vida sem dormir? Aliás, sonhos precisam de explicação biológica? Os psiquiatras Robert McCarley e Allan Hobson, da Universidade Harvard, nos EUA, quase tiraram a graça da história, em 1977. Para eles, o sonho seria apenas conseqüência da atividade elétrica do cérebro no sono, "sacudindo" memórias e pensamentos. A teoria ganhou opositores de todos os lados: psicólogos freudianos dizem que há sonhos altamente coerentes e alguns evolucionistas afirmam que sonhar é uma ótima forma de simular situações sem se expor a riscos.


Como funciona a acupuntura?
Meridianos energéticos, balanceamento do yin e yang, reforço do chi... Fala sério: do ponto de vista da medicina e da biologia, as explicações tradicionais sobre a acupuntura não têm sentido nenhum. Mesmo assim, essa prática, cujo registro mais antigo vem do ano 90 a.C., difundiu-se a partir da China para o Ocidente. Uma possível explicação para a popularidade da técnica é o efeito placebo (veja na pág. 64), que pode mesmo reduzir dores. Essa justificativa começou a balançar em 1999, quando a Universidade de Heildelberg, na Alemanha, fez uma experiência com um grupo de controle, que usou agulhas retráteis (os pacientes sentiam a picada, mas a agulha não penetrava na pele). O grupo que levou agulhadas verdadeiras contra tendinite registrou índice de melhora muito maior do que o das agulhadas falsas, beneficiado apenas por efeito placebo. Ou seja, a coisa funciona. Mas a pergunta persiste: como?

Como os animais pressentem coisas?
A quantidade surpreendentemente baixa de animais mortos no tsunami que varreu a Ásia no final de 2004 inspirou novas discussões sobre uma dúvida antiga: como funcionam os sentidos dos bichos? Melhor que os nossos, certamente, já que as pessoas não foram capazes de prever nem de fugir da onda gigante. Quase sempre, é possível encontrar explicações razoáveis para cada espécie, sem recorrer a nenhum hipotético "sexto sentido". Bigodes de gatos, por exemplo, podem perceber ínfimos deslocamentos de ar ou um toque equivalente à milésima parte do peso de um fio de cabelo. Mesmo assim, os feitos dos animais obrigam os cientistas a atualizar freqüentemente o que sabem. Foi a partir dos anos 90 que se admitiu que o olfato dos cães chega a ser 1 milhão de vezes mais aguçado que o humano, embora a estrutura cerebral responsável por esse sentido seja "apenas" 40 vezes maior que a nossa.